segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Receitinha Infalível



Quando as pessoas sabem que estamos com uma doença difícil como o câncer, todo mundo quer ajudar, mas de que maneira? A verdade é que além de dar amor, apoio e carinho (o que é vital!) não há muito o que fazer. Na maioria das vezes, as pessoas acham que um abraço forte é pouco (não é!) e insistem em passar aquela receita perfeita para tratar os efeitos colaterais da quimioterapia ou até o próprio câncer!

"Olha, pro intestino preso você tem que comer fibras, cereais. Ameixa seca é uma beleza!" "Eu também acho. Impossível comer mais fibra que eu, querida, você não está entendendo... A questão é que nem mesmo óleo vegetal está dando jeito!"

"Você tem que comer inhame. Inhame filtra o sangue, é ótimo! Eu curei um problema sério no estômago comendo inhame!" "Mas eu como sempre, adoro!" (De fato como, adoro e realmente é recomendado pelos médicos para recuperação durante a quimioterapia) "Não, mas você tem que comer cru, batido com leite!" Deus me livre, odeio leite! Já pensou o terror que não é essa gororoba?! Deve curar qualquer coisa, as células, vírus, bactérias, devem todos sair correndo...

Eu acredito bastante no poder da alimentação, nos chás, nos fitoterápicos; o problema é que todos os efeitos colaterais da quimioterapia são extremamente fortes, não é uma ameixinha que vai curar nossa constipação, infelizmente. 

Mas, como eu não sou melhor que ninguém, também vou deixar minha receita infalível! Que, pasmem, funcionou até durante a quimioterapia! Própolis! Própolis é um santo remédio.

Estou há mais de um ano em tratamento e, até então, não havia tido nem mesmo um resfriadinho. Outro dia, acordei com a garganta arranhando. Pronto, fiquei desesperada! Você pode estar pensando "Ah, desesperar por causa de uma leve laringite?! Que exagero!" E talvez você tenha razão, mas a vida depois do câncer não é a mesma. A gente se desespera com qualquer coisinha, tem medo de qualquer diagnóstico, treme pra fazer o exame mais bobo. Eu sabia que minha imunidade estava baixa, quase não pudera fazer quimioterapia por causa disto. Então, meus primeiros pensamento foram sobre no que poderia se tranformar aquele simples resfriadinho em um corpo sem defesas...

Como eu ia dizendo, acordei com a garganta arranhando, me desesperei, mas resolvi seguir uma antiga receita que sempre deu certo comigo: borrifar própolis na garganta várias vezes até melhorar. Uso sempre aquele spray de farmácia, mas o de própolis, sem mel, sem romã, só própolis e água. Ah, e uma ou duas vezes ao dia, tomo uma misturinha caseira, limão, mel e extrato de própolis (só cuidado com o estômago, que a mistura é forte). Pronto, dois dias depois, eu não tinha nem sinal de inflamação!

obs: Ninguém, especialmente quem está em tratamento quimioterápico, deve usar de qualquer medicamento, ainda que natural, sem orientação médica.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Utilidade Pública 7: Sintomas do Câncer de Mama


Fique alerta diante de qualquer um destes sinais apresentados a seguir. Eles podem ou não significar a presença de um câncer, por isso a importância de uma avaliação médica.

Mas, atenção: o câncer de mama em fase inicial, geralmente, não tem sintomas. Então,  não deixe de fazer seus exames regularmente!



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Utilidade Pública 6: Outubro Rosa

Esse é o mês de campanha para a prevenção ao câncer de mama. Vale lembrar que, se a doença for detectada em estágio inicial, a chance de cura chega a 90%.  Então não deixe de fazer seus exames! 

Hoje em dia, com os frequentes casos de câncer de mama em mulheres cada vez mais novas, acho falho que a mamografia seja indicada somente para mulheres acima de 40 anos (ou 35 no caso de câncer de mama na família). Infelizmente, isso ocorre principalmente porque o exame é caro e tanto SUS, quando os planos de saúde, preferem economizar na prevenção a evitar tratamentos onerosos (o que, além de cruel, é uma tremenda burrice, já que o tratamento é beeeemmm mais caro).

De qualquer forma, as mulheres que ainda não possuem indicação para mamografia, podem fazer o auto-exame (veja aqui) e devem ir ao médico e solicitar o exame clínico. Esse procedimento é parecido com o do auto-exame, mas ele é feito por um especialista capaz de detectar anomalias na mama, ou seja, mesmo fazendo o auto-exame, você deve ir ao médico fazer o exame-clínico. Mas, como o tumor só começa a ser sentido nesse tipo de exame, quando já está medindo um centímetro ou mais (e um tumor com esse tamanho já não está mais no primeiro estágio), converse com seu médico sobre a possibilidade de fazer a ultrassonografia mamária. São ações simples, rotineiras e que salvam vidas! 

Lembre-se também que, quando antes descoberto um câncer, melhor será a qualidade de vida do paciente!

Minha querida amiga Carol lembrou de mim ao ver essa foto e postou no FB. Adorei ;)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Visual quimioterápico

Não adianta, a mulher tem uma relação muito forte com seus cabelos e público masculino normalmente agradece.

Eu estava no hospital e ouvi uma história que adorei. Gostaria muito de organizar um livro com essas histórias. Quem sabe um dia.

Uma senhora que fez quimioterapia contou que, quando estava em tratamento os cabelos caíram, mas, como eu, ela não se abalou em ficar careca. Por outro lado, quando os cabelos começaram a nascer brancos, ela, que sempre os pintara, ficou bem pra baixo.

Então, sem titubiar, assim que os pelos tinham um tamanhinho considerável, se dirigiu ao salão e os tingiu.* Entrou satisfeita com a decisão, mas não pediu sua cor de sempre, resolveu por algo que achou mais condizente com a sua idade, uns reflexos cinzas.

Depois de alguns longos minutos, o cabelereiro tirou o papel alumínio do seu cabelo e... Rosa! Eles estavam rosa! Ela ficou em choque, mas não podia mexer, o cabelo com a química fica fraco e risco de perdê-lo, no mínimo porque sempre o risco de prejuízo ao couro cabeludo e a saúde.

Como uma mulher moderna, a vovó punk assumiu suas novas madeixas e seguiu sua vida. Foi ao shopping fazer compras, já esquecida do recente estrago no visual. Estrago? De dentro de uma loja de moda jovem, sai um vendedor alegre e saltitante "Madame, Madame! Adorei seu visual, super fashion!"

Hoje, a tinta já saiu. Ela fez um corte moderno e resolveu manter a cor natural da idade.

Com esse história, acabei me lembrando de um a vez que fui trabalhar, era assembleia de cineastas e contecia no Tempo Glauber. Enquanto eu esperava as pessoas chegarem, fiquei batendo um papo leve com uma senhorinha simpática (ninguém mais, ninguém menos que Dona Lúcia, mãe do Glauber Rocha). Senti que ela estava assim, meio inquieta com o meu visu. Eu havia parado a quimio fazia pouco tempo e o cabelo já começara a nascer, mas estava bem curtinho, parecia raspado e eu colocava uns brincões, aproveitando pra fazer um estilo.

Depois de trocarmos algumas frases sem maior importância, Dona Lúcia não se conteve e disse "É, agora está no moda, não é, cortar o cabelo assim curtinho..." Tão delicada, tadinha, falou de uma maneira muito sutil, mas eu notei que ela não gostou muito do meu visu radical. kkkkkk

Fiquei pensando o que dizer para um senhorinha, tão senhoria. O que realmente vale a pena saber nessa idade? Até onde poupar a pessoa da vida, afinal, ela continua viva. Resolvi por dizer "Na verdade, eu não cortei, eles caíram com um medicamento que tive que tomar, mas agora já está tudo bem!" Ela respondeu "Ah, é? Mas que bom que já está tudo bem, né?" (Bonitinha!) Melhor dessa forma, acredito que os idosos, ainda que por motivos diferentes, devem ser poupados de certos detalhes, assim como as crianças.

Nesse fim de semana comprei um arco muito bonitinho, assim, estilo menininha (não ando curtindo mais o estilo radical com o qual me diverti vestindo no início da quimio). Sabe que gostei?!


*obs: antes de pintar o cabelo, o paciente que fez quimioterapia deve procurar orientação médica, porque no corpo ainda se concentra parte da medicação, que pode trazer prejuízo à sua saúde, quando em contato com a tintura.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Já que ela disse...


Sabe quando alguém fala ou escreve exatamente o que você pensa e você tem a certeza de ambas sente a mesma coisa? Isso aconteceu comigo quando li o texto abaixo da Marcia Cabrita (blog genial!). Aliás, acontece com quase todos os texto que leio dela, esse em especial, porque já li várias vezes, em contextos diferentes, e sempre noto essa sintonia!


Ainda que a gente tenha reagido de maneira diferente às etapas da doença (aliás, doenças diferentes), sempre concordo com o ponto de vista dela. Temos pensamentos parecidos, nos incomodamos com as mesmas coisas.

Então, como acredito que o que está bem feito não precisa, nem deve ser refeito, segue abaixo o texto da Marcia Cabrita, originalmente publicado na Revista O Globo:




Eu fiquei gravemente doente. Ao contrário do que muitos fantasiam, não tirei de letra. Não sei o porquê, mas existe uma idéia estapafúrdia de que quem está com câncer tem que, pelo menos parecer herói. Nãnanina não! Quem recebe uma notícia dessas não consegue ter pensamentos belos. Bem... eu não conseguia. A cobrança de positividade acabou se tornando um problema. Me olhava no espelho branca, magrela e de cabelos curtinhos (antes de caírem) e me achava pronta para fazer figuração na Lista de Shindler. Achava que não tinha chance de sobreviver à cirurgia, só pessoas que não tinham maus pensamentos sobreviviam. Muitas vezes deixei de comprar coisas para mim porque tinha que deixar tudo para minha filha. Bem, se na minha cabeça era esse o pensamento que reinava ... Sem chance.

O mundo moderno é incrível. Tudo é maravilhoso, não existe sofrimento! As separações são sempre amigáveis e sem lágrimas, as mães não tem mais o direito de embarangar e ficar em casa lambendo a cria. Um mês depois estão lindas, magras, com barriga sarada! Os atores não ficam desempregados, estão sempre felizes com um convite que ainda não pode ser revelado! Quimioterapia é moleza! Vem cá, só eu que não moro na Disney?

Hoje percebo que precisei viver esse luto. Ele passou, apesar do medo fui confiante para o hospital. Mas outras angústias vieram. Sofri pelo que é “o de menos”, chorei pelos cabelos, pelas sobrancelhas, pelos cílios e pelo ... resto que vocês sabem. Chorei pelas dores , enjôos, injeções e tudo mais. Eu me dei esse direito. Eu me dei o direito de ser humana. A Mulher Maravilha mora na televisão, eu moro na Gávea mesmo. A Mulher Maravilha dá aquela giro e sai linda e poderosa correndo para salvar pessoas. Se eu fizesse a mesma coisa cairia estabacada com a careca no chão. Então meu giro foi bem devagarzinho segurando na mão de minha mãe, de minha irmã e de meus queridos amigos e familiares. Girei amparada por dr Eduardo Bandeira, por Virginia Portas, dr Celso Portela e todos enfermeiros e profissionais de medicina que foram simplesmente maravilhosos comigo. Girei rindo e chorando com centenas de comentários no meu blog onde eu virei praticamente uma conselheira oncológica. Girei brincando com minha filha que fez questão de ir para escola de lenço na cabeça “igual a mamãe porque é muito legal”. Girei para salvar a mim mesma.
Sinceramente, não acredito em uma seleção divina. Muitas pessoas bacanas e crianças morrem e isso não é nem um pouquinho justo. Acho um saco quando dizem “ Fulano perdeu a batalha contra o câncer” , “Fulana tem tanta vontade e alegria de viver que foi salva”ou “ O amor por meus filhos me salvou”. Me parece tremendamente injusto. Quer dizer que quem morre não amava a vida? O amor pelos filhos não era grande o suficiente? A fé foi pouca? Pensamento bem cruel, não é mesmo? E é uma coisa bem esquisita, isso só acontece com o câncer, a única doença tão estigmatizada. Ninguém diz que alguém perdeu a batalha para o enfarte, nem que amava tanto a vida que ficou bom da tuberculose.

Re-mis-são. Estou em remissão. Quem não apresenta mais sinais da doença pelo corpo não pode sair correndo gritando que está curada, então saio correndo e gritando que estou em remissão!!! Eba! Remissão é muito bom!!

Vi uma foto minha na internet com meus companheiros de Subversões Aloísio e Salem em que estou com um largo sorriso. Eu estava verdadeiramente feliz. Sem a pílula da felicidade, sem fingir meus sentimentos, sem bancar a maravilhosa. Era eu simplesmente feliz.

E agora ... chega desse assunto! Eu sou atriz e tô mais preocupada com o um convite que não pode ser revelado.