quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Visual quimioterápico

Não adianta, a mulher tem uma relação muito forte com seus cabelos e público masculino normalmente agradece.

Eu estava no hospital e ouvi uma história que adorei. Gostaria muito de organizar um livro com essas histórias. Quem sabe um dia.

Uma senhora que fez quimioterapia contou que, quando estava em tratamento os cabelos caíram, mas, como eu, ela não se abalou em ficar careca. Por outro lado, quando os cabelos começaram a nascer brancos, ela, que sempre os pintara, ficou bem pra baixo.

Então, sem titubiar, assim que os pelos tinham um tamanhinho considerável, se dirigiu ao salão e os tingiu.* Entrou satisfeita com a decisão, mas não pediu sua cor de sempre, resolveu por algo que achou mais condizente com a sua idade, uns reflexos cinzas.

Depois de alguns longos minutos, o cabelereiro tirou o papel alumínio do seu cabelo e... Rosa! Eles estavam rosa! Ela ficou em choque, mas não podia mexer, o cabelo com a química fica fraco e risco de perdê-lo, no mínimo porque sempre o risco de prejuízo ao couro cabeludo e a saúde.

Como uma mulher moderna, a vovó punk assumiu suas novas madeixas e seguiu sua vida. Foi ao shopping fazer compras, já esquecida do recente estrago no visual. Estrago? De dentro de uma loja de moda jovem, sai um vendedor alegre e saltitante "Madame, Madame! Adorei seu visual, super fashion!"

Hoje, a tinta já saiu. Ela fez um corte moderno e resolveu manter a cor natural da idade.

Com esse história, acabei me lembrando de um a vez que fui trabalhar, era assembleia de cineastas e contecia no Tempo Glauber. Enquanto eu esperava as pessoas chegarem, fiquei batendo um papo leve com uma senhorinha simpática (ninguém mais, ninguém menos que Dona Lúcia, mãe do Glauber Rocha). Senti que ela estava assim, meio inquieta com o meu visu. Eu havia parado a quimio fazia pouco tempo e o cabelo já começara a nascer, mas estava bem curtinho, parecia raspado e eu colocava uns brincões, aproveitando pra fazer um estilo.

Depois de trocarmos algumas frases sem maior importância, Dona Lúcia não se conteve e disse "É, agora está no moda, não é, cortar o cabelo assim curtinho..." Tão delicada, tadinha, falou de uma maneira muito sutil, mas eu notei que ela não gostou muito do meu visu radical. kkkkkk

Fiquei pensando o que dizer para um senhorinha, tão senhoria. O que realmente vale a pena saber nessa idade? Até onde poupar a pessoa da vida, afinal, ela continua viva. Resolvi por dizer "Na verdade, eu não cortei, eles caíram com um medicamento que tive que tomar, mas agora já está tudo bem!" Ela respondeu "Ah, é? Mas que bom que já está tudo bem, né?" (Bonitinha!) Melhor dessa forma, acredito que os idosos, ainda que por motivos diferentes, devem ser poupados de certos detalhes, assim como as crianças.

Nesse fim de semana comprei um arco muito bonitinho, assim, estilo menininha (não ando curtindo mais o estilo radical com o qual me diverti vestindo no início da quimio). Sabe que gostei?!


*obs: antes de pintar o cabelo, o paciente que fez quimioterapia deve procurar orientação médica, porque no corpo ainda se concentra parte da medicação, que pode trazer prejuízo à sua saúde, quando em contato com a tintura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário