quarta-feira, 13 de junho de 2012

Utilidade Pública 3: Você já se tocou hoje?

Tenho percebido que a primeira curiosidade com relação à minha história com o câncer, sejam "colegas de peito" ou não, é saber como eu descobri; o que me fez procurar o médico e chegar ao diagnóstico.

Eu sempre tive uma mama, digamos, esquisitinha. Tinha displasia mamária, nódulos e dores (nada relacionado a câncer ou qualquer tipo de tumor) e, por isso, desde de adolescente, fazia exames regulares. E talvez, também por isso, tenha me acostumado a fazer constantemente o auto-exame. 

Quando voltei de Portugal, fiz um "check upão", que incluía uma ultrassonografia mamária. Estava tudo certo. Isso foi no início de 2010, no final do ano, comecei a desconfiar de um nódulo na mama, como minha mama é irregular e não sou uma especialista, não procurei o médico de imediato, pensei que, se havia realmente algo ali, seria somente um nódulo, que eu tomaria vitamina E como das outras vezes e ele sumiria. Uns meses depois, verifiquei que realmente tinha um nódulo e que ele havia crescido bastante (cresceu muito rápido). Assustada com o tamanho, corri para a médica, que solicitou uns exames e me encaminhou para o Hospital da Lagoa, o restante da história vocês já sabem.

Nesse tempo, conversando com minhas amigas, descobri um monte de coisas que eu nem desconfiava sobre médicos, mamas e mulheres. E, com isso, fui notando a importância de contar a minha trajetória. 

1- Eu pensava que todo mundo fazia ultrassonografia mamária regularmente, assim como fazemos o exame papanicolau, mas descobri que não. Inclusive, muitos ginecologistas nem mesmo examinam a mama de suas pacientes (fujam desses!)

A indicação médica para exames de mama começa aos 40/45 anos dependendo ainda se tem casos de câncer de mama na família. O problema é que mulheres cada vez mais novas têm apresentado câncer de mama e isso está se tornando uma constante. O classe médica está assustada, eles vêm pesquisando o motivo do aumento dos casos inclusive entre mulheres mais jovens, mas não encontram justificativa. Enquanto isso, os sistemas público e particular desestimulam (ou não incentivam) a indicação de exames regulares para outras faixas etárias por questões econômicas (como vem acontecendo nos EUA).

2- As mulheres não somente não fazem o auto-exame, como não tocam seus seios. Não conhecem suas mamas. 

O auto-exame é um guia técnico da melhor maneira de você mesma identificar nódulos nas mamas e axilas. Mas você não é uma médica, não sabe o que é nódulo, o que é glândula, o que é tumor, o que é paranóia. Então, conhecer o seu corpo é o primeiro passo para que você possa notar qualquer alteração e buscar ajuda especializada.

Não pense e não utilize o auto-exame literalmente como um exame. Toque seu corpo, conheça sua mama. Saiba como ela se comporta nos diferentes períodos do ciclo menstrual! (e ela muda muito, vai por mim)

Nossa cultura incentiva que entreguemos o conhecimento do nosso corpo ao outro, principalmente quando se trata de mulheres. Cabe ao homem descobrir suas zonas erógenas, cabe ao médico saber se o seu organismo está funcionando normalmente ou não etc. 

Eu acredito que a mulher (e o homem também!) deve se apoderar do que lhe pertence: seu corpo. Se observe, se toque. Saiba como você reage a cada estímulo (em todos os campos, no sexo, na alimentação, na saúde...), assim, quando houver alguma alteração, você poderá procurar o especialista e lhe contar exatamente o que vem acontecendo de errado, participando, e, inclusive, podendo identificar um possível erro de diagnóstico (não esquecendo que médicos são pessoas e pessoas são passíveis de erro).

Há uma corrente médica, hoje em dia, que desacredita ou até desaconselha o auto-exame, porque acredita que a mulher deixa de consultar o médico por já ter feito o exame em casa. Minha parca experiência mostra o contrário, quase todas as mulheres do hospital com quem tive contato (e tive contato com várias por participar do grupo de apoio) chegou ao diagnóstico de câncer de mama por ter verificado, em casa, algo estranho na mama.

Então, eu pergunto, como pode um médico desestimular que a pessoa se toque, se conheça?






Um comentário:

  1. Simplesmente sensacional!!! Nada mais a dizer. Parabéns pelo texto e por compartilhar algo relevante para todos! Beijao, Cris

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